Uso de antidepressivos durante a gestação

12 de fevereiro de 2020

Apesar da gravidez ser um momento que traz uma série de aspectos positivos, em alguns casos a depressão poderá ocorrer. Neste momento, surgem questionamentos sobre o uso de antidepressivos durante a gestação.

A gestação é um momento bastante complexo na vida de uma mulher. Apesar de ser uma fase que pode trazer grandes alegrias, é também um período no qual a nova mãe encontra-se bastante vulnerável e cheia de inseguranças.

Atualmente, sabe-se que a gestação não protege a mulher de transtornos mentais, como pensava-se há tempos. 


Pelo contrário, as taxas de depressão na gestação podem chegar a 20%. Inclusive, mulheres que tiveram depressão anteriormente costumam apresentar recorrência na gravidez ou no pós-parto.


Esta condição traz riscos para a mãe e para o feto. Isso porque, a mulher com quadro depressivo pode não dar atenção ao autocuidado e nutrição adequados, além de estar mais exposta ao uso do álcool, cigarro e outras drogas.


Diante disso, surge um questionamento sobre o uso de medicamentos antidepressivos durante a gestação.

Antidepressivos durante a gestação


Ainda hoje, o uso de antidepressivos durante a gestação é muito discutido.


Um estudo publicado em 2020 pelo JAMA Psychiatry analisou mais de 30 mil casos de crianças nascidas com alguma malformação, tendo um grupo de controle de 11.478 crianças sem defeitos congênitos. A pesquisa foi realizada entre 1997 e 2011 nos EUA. 

O resultado nos mostra que, para os casos de crianças que nasceram com malformações, 5,1% das mães fizeram uso de antidepressivos durante a gestação.


Além disso, o estudo traz a informação que as mães que utilizavam antidepressivos, quando comparadas àquelas que não utilizavam, tiveram um aumento nas chances de ter fetos com malformação.


Apesar desta informação, o risco do uso destes medicamentos é bastante atenuado quando outras condições são consideradas, como depressão, ansiedade e síndrome metabólica. 


Isso porque, também estas questões são fatores de risco para defeitos congênitos.


Tipos de medicamentos utilizados

No que se refere ao tipo de medicamento utilizado, até então, a Sertralina era associada a menores riscos na gestação.


Desde 2002, a prescrição deste medicamento aumentou muito graças ao resultado de um estudo que apresentava o remédio como aquele que apresentava menor relação com casos de malformações fetais.


Neste estudo de 2020, porém, surge a informação que o Escitalopram foi o antidepressivo menos associado a defeitos congênitos.

Em contrapartida, a Venlafaxina foi o medicamento que apresentou maior risco para a ocorrência de malformação fetal. Todavia, esta informação deve ainda ser confirmada por mais estudos.


Um ponto importante a considerar é que, apesar de trazer resultados muito interessantes, o estudo não levou em consideração diversas variáveis relevantes.


Por exemplo, a situação socioeconômica, exposição a toxinas e uso de substâncias pelas gestantes são fatores de risco que não foram abordados.


Considerando que estes fatores também são relacionados a defeitos congênitos, se fossem analisados, o risco do uso de antidepressivos poderia ter sido ainda menor.


Como fazer o tratamento de gestantes com problemas mentais?

Diante de tantas questões pode ficar o questionamento de qual a melhor abordagem para o tratamento de gestantes com doenças mentais.


O primeiro ponto a considerar é que o tratamento de mulheres nestas condições deverá ser feito com uma atuação conjunta entre o obstetra e o psiquiatra.


Além disso, será essencial sempre pesar o risco benefício de deixar uma depressão não tratada nesta fase. Isso porque, esta condição, além de gerar risco de defeitos congênitos para o feto, pode colocar em risco a vida da mãe.


Outro fator importante é que a própria mãe será essencial nesse processo, sendo que ela deverá fazer parte dessa decisão. Claro que, para tal, ela deverá ser devidamente orientada sobre todos os riscos e benefícios associados às suas escolhas.


Apesar de alguns riscos associados, em linhas gerais o uso de antidepressivos na gestação pode ser interessante em casos de depressão e ansiedade graves que não respondem à terapia não medicamentosa. 

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Dr. Anderson Silva

CRMSP 152951 - RQE 61217


  • Mestre pelo Departamento de Psiquiatria da USP;
  • Médico Psiquiatra Assistente do Hospital Sírio-Libanês;
  • Membro da International Association for Child and Adolescent Psychiatry and Allied Professions (IACAPAP);
  • Coordenador dos Cursos de Pós-graduação em Psiquiatria e Psiquiatra da Infância e Adolescência da Pós Médica/FABIN;
  • Psiquiatra no Projeto PROADI-SUS da Telemedicina do Hospital Israelita Albert Einstein;
  • Professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade 9 de Julho 2019 a 2021;
  • Supervisor da Residência de Psiquiatria da Secretaria Municipal de São Bernardo do Campo 2018 a 2020;
  • Editor Adjunto da Revista Debates em Psiquiatria 2022 a 2023;
  • Especialização em Saúde Mental da Infância e Adolescência pela Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência da UNIFESP;
  • Especialização em Dependência Química na USP;
  • Titulo de Especialista em Psiquiatria pelas Associações Brasileira de Psiquiatria e Médica Brasileira;
  • Cursos em The Harvard Medical School: Psychiatry 2014 e Psychopharmacology: A Masters Class(2015);
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