A Saúde Mental Pós Bariátrica

1 de janeiro de 2022

A execução da cirurgia bariátrica visa, além da perda de peso e melhoria das condições físicas, um aumento da qualidade de vida. Para isso, será essencial cuidar também da saúde mental pós bariátrica. 

A execução da cirurgia bariátrica visa, além da perda de peso e melhoria das condições físicas, um aumento da qualidade de vida. Para isso, será essencial cuidar também da saúde mental pós bariátrica.

A cirurgia bariátrica tem ganhado cada vez mais adeptos nos últimos anos. Este procedimento tem o intuito de diminuir o tamanho do estômago promovendo, desta forma, a perda de peso.


Apesar de trazer diversos benefícios físicos para os pacientes, como a melhoria nos quadros de hipertensão e diabetes, os benefícios para saúde mental pós cirurgia bariátrica não são ainda amplamente discutidos.


Sabemos que o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar é essencial para o sucesso do tratamento. Entretanto, muitos pacientes não seguem o tratamento psiquiátrico pelo tempo necessário.


Quais principais dificuldades dos pacientes pós bariátrica

Após a realização do procedimento, a perda de peso excessiva gera uma dificuldade nos pacientes de se reconhecerem no novo corpo.

Além disso, o excesso de pele e a flacidez provenientes do emagrecimento geram grande desconforto fazendo com que muitos pacientes tenham vergonha e sofram dificuldades na integração social.


Outro fator importante para os pós bariátricos é a dificuldade em aceitar a nova rotina, já que mudanças importantes nos hábitos de vida são necessárias.


Ocorre que muitas angústias e problemas emocionais que antes eram descontados na comida passam a ocasionar outras formas de compulsão.


Devemos também considerar que a obesidade e a depressão são síndromes relacionadas, ou seja, a obesidade pode acarretar o início da depressão e vice versa. Desta forma, estes pacientes podem se submeter à cirurgia já com um histórico depressivo associado.


Este fator deve ser levado em consideração, pois a cirurgia bariátrica não foca diretamente o tratamento das alterações psicológicas ou comportamentais que podem estar associados à obesidade. Ou seja, o acompanhamento psicológico e psiquiátrico é essencial para a melhoria do quadro geral do paciente.


Apesar desta necessidade, muitos indivíduos costumam ter vergonha ou preconceitos em seguir um acompanhamento psiquiátrico. Em adição, isso pode encarecer o tratamento e não ser atrativo para o paciente.


A importância do acompanhamento psiquiátrico para garantir a saúde mental pós bariátrica

O acompanhamento psiquiátrico é essencial antes e após a cirurgia bariátrica. Além disso, a saúde mental nestes pacientes deverá ser levada em consideração em curto e médio prazo.


Sabemos que a presença prévia de um transtorno de humor ou outro transtorno psiquiátrico está associado negativamente a perda de peso. Ou seja, nos seis primeiros meses após a cirurgia bariátrica os pacientes que já tinham transtornos acabam perdendo menos peso.


O mesmo ocorre quando avaliamos os pacientes de 2 a 3 anos após o procedimento. Novamente observamos que pacientes com algum transtorno de humor têm menor perda de peso quando comparados a pacientes sem histórico de transtorno mental.


Outras informações são também interessantes. Por exemplo, um estudo de 2019 fez um acompanhamento longitudinal de 2 a 3 anos em pacientes pós bariátrica e depois analisou estes mesmos pacientes após 7 anos do procedimento.


Os resultados mostram que em 2 a 3 anos após o procedimento pôde-se observar uma melhora dos transtornos mentais, principalmente transtornos ansiosos e depressivos.


Destes pacientes avaliados, antes da cirurgia bariátrica 34,7% tinham algum transtorno mental. Após 4 anos do procedimento esta taxa caiu para 21%.


Apesar da redução ser considerável, não podemos deixar de levar em consideração que a taxa de pacientes com transtornos é ainda significativa.


Entretanto, observou-se que, com o passar dos anos, a quantidade de pacientes com transtornos aumentou novamente. Mais precisamente, após 7 anos do procedimento novamente cerca de 30% dos pacientes tinham algum transtorno mental.


Ou seja, um número muito similar àquele encontrado antes da realização da cirurgia.


Dessa maneira, é importante pensar na importância do acompanhamento longitudinal desses pacientes. Isso porque, apesar de ocorrer uma diminuição inicial na prevalência de transtornos mentais, a longo prazo parece que eles acabam reincidindo.


Se considerarmos que estes pacientes, no geral, são acompanhados somente por 6 meses após a bariátrica, podemos concluir que muitas vezes a saúde mental acaba ficando de lado, o que não é o ideal.


Concluindo…

Podemos dizer que a melhora da saúde física é indiscutível após a bariátrica. Todavia, caso a pessoa tenha algum transtorno mental prévio, não podemos afirmar que o procedimento por si só proporcione uma melhora significativa na sua saúde global.


Isso porque, ela terá sim uma redução do peso e melhoria de suas condições físicas. Entretanto, a presença de um transtorno mental continuará a existir, o que afetará negativamente saúde mental e a qualidade de vida e destes indivíduos.


É importante avaliar que, quando uma pessoa busca fazer a cirurgia bariátrica, em última análise o objetivo é a melhoria da qualidade de vida.


Porém, a maior parte das pessoas deixa de lado o acompanhamento psiquiátrico e a saúde mental, ou seja, acabam por não atingir seu objetivo principal.


Fica então evidente a importância de seguir o tratamento psiquiátrico não só nos primeiros meses após o procedimento, mas sim pelo tempo que for necessário para alcançar o equilíbrio emocional essencial para conquistar a qualidade de vida almejada.


Referências Bibliográficas

Kalarchian MA, King WC, Devlin MJ, et al. Psychiatric Disorders and Weight Change in a Prospective Study of Bariatric Surgery Patients: A 3-Year Follow-Up. Psychosom Med. 2016;78(3):373-381. 

Kalarchian MA, King WC, Devlin MJ, et al. Mental disorders and weight change in a prospective study of bariatric surgery patients: 7 years of follow-up. Surg Obes Relat Dis. 2019;15(5):739-748. 

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Dr. Anderson Silva

CRMSP 152951 - RQE 61217


  • Mestre pelo Departamento de Psiquiatria da USP;
  • Médico Psiquiatra Assistente do Hospital Sírio-Libanês;
  • Membro da International Association for Child and Adolescent Psychiatry and Allied Professions (IACAPAP);
  • Coordenador dos Cursos de Pós-graduação em Psiquiatria e Psiquiatra da Infância e Adolescência da Pós Médica/FABIN;
  • Psiquiatra no Projeto PROADI-SUS da Telemedicina do Hospital Israelita Albert Einstein;
  • Professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade 9 de Julho 2019 a 2021;
  • Supervisor da Residência de Psiquiatria da Secretaria Municipal de São Bernardo do Campo 2018 a 2020;
  • Editor Adjunto da Revista Debates em Psiquiatria 2022 a 2023;
  • Especialização em Saúde Mental da Infância e Adolescência pela Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência da UNIFESP;
  • Especialização em Dependência Química na USP;
  • Titulo de Especialista em Psiquiatria pelas Associações Brasileira de Psiquiatria e Médica Brasileira;
  • Cursos em The Harvard Medical School: Psychiatry 2014 e Psychopharmacology: A Masters Class(2015);
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