Suicídio em veterinários
Sabemos que os profissionais da saúde, principalmente médicos, possuem uma taxa de suicídio superior à da população geral. Todavia, o que nem sempre levamos em consideração é a saúde mental e a taxa de suicídio em veterinários.

Nos últimos anos, diversos estudos foram executados para avaliar a taxa de suicídios em veterinários, principalmente após 2014 quando ocorreu o suicídio da Dra. Sophia Yin, uma renomada veterinária dos Estados Unidos.
Assim, um estudo publicado em 2015 pela Dra. Stoewen analisou a taxa de suicídios nestes profissionais nos Estados Unidos e identificou que ela é 2 vezes superior do que a taxa de suicídios em médicos e quase 4 vezes maior do que a taxa na população geral.
Esses são dados bastante preocupantes e, diante destas informações, torna-se essencial compreender quais fatores podem provocar a elevada taxa de suicídios de veterinários.
Quais os fatores associados à grande quantidade de suicídio em veterinários?
Compreender as causas associadas ao suicídio em veterinários é essencial para atuar neste problema.
Um estudo publicado no 2010 trouxe algumas elucidações importantes. De acordo com os pesquisadores, os veterinários que trabalhavam com eutanásia tinham taxas de suicídio muito mais altas quando comparadas aos que não trabalhavam.
Assim, nos veterinários não faziam eutanásias as taxas de suicídio eram mais próximas das taxas da população geral.
Além disso, uma pesquisa realizada em 2014 com 11.000 veterinários apontou que 9% deles tinham algum estresse psicológico grave, 31% tinham episódios depressivos e 17% tinham ideação suicida depois de se formarem na faculdade.
No geral, a pesquisa sugere que pelo menos 1 a cada 10 veterinários sofre de algum transtorno mental, mas que somente metade procura tratamento.
Outro fator importante que devemos considerar diz respeito às condições financeiras destes profissionais.
Este mesmo estudo realizado em 2014 observou que 1 a cada 5 veterinários sofria cyber bullying pelos donos dos animais porque se recusaram a prestar serviços gratuitos.
Além disso, a pesquisa em questão revelou que 1 a cada 4 veterinários recebiam pedidos para não cobrarem pelos seus serviços.
Esse aspecto é bastante preocupante, pois, principalmente nos Estados Unidos, os veterinários saem da faculdade com uma dívida de mais de 150.000 USD referente aos custos com sua formação.
Somado a isso, os primeiros empregos para veterinários pagam entre 22.000 a 40.000 USD por ano, ou seja, eles tendem a ficar endividados por um certo tempo até conseguirem pagar esse débito universitário.
Outros fatores que podem estar entre a lista de motivos para estes casos são as cargas elevadas de trabalho e a sensação de não ser um bom profissional ao não conseguir salvar a vida de um animal.
O que pode ser feito para combater esta situação?
A conscientização é sempre um passo importante na luta contra as doenças mentais e o suicídio. Conhecer e falar sobre este assunto é fundamental e pode incentivar muitos veterinários a procurarem ajuda de um profissional.
Diante disso, em 2014 a doutora Nicole McArthur fundou o “Not One More Vet”, uma organização para evitar suicídios em veterinários que atualmente já tem mais de 16.000 membros pelo mundo todo, não só nos Estados Unidos.
A organização visa oferecer suporte aos veterinários colocando-os em contato de modo que percebam que não estão sozinhos no enfrentamento dos desafios.
Além disso, oferece auxílio e apoio para que aprendam sobre autocuidado, depressão, felicidade e o caminho para a auto aceitação e realização.
E no Brasil, como fica essa questão?
Um ponto de alerta importante é a situação mental dos veterinários no Brasil.
Poucos são os estudos que abordam esta questão no nosso país, mas muito provavelmente tenhamos taxas semelhantes àquelas apresentadas em estudos nos Estados Unidos.
Assim, o fato de não termos um olhar muito específico para essa questão no Brasil torna a situação ainda mais crítica. Isso porque, como já falamos, conhecer e abordar abertamente um problema é uma das melhores formas de solucioná-lo.
Então, caso você seja veterinário ou conheça profissionais que possam estar em situações de risco, saiba que com a ajuda de um psiquiatra é possível solucionar esta questão.
Não deixe o cuidado mental para depois!
Referências Bibliográficas:
Stoewen DL. Suicide in veterinary medicine: let’s talk about it. Can Vet J. 2015;56(1):89-92.
Bartram DJ, Baldwin DS. Veterinary surgeons and suicide: a structured review of possible influences on increased risk. Vet Rec. 2010 Mar 27;166(13):388-97.
Dr. Anderson Silva
CRMSP 152951 - RQE 61217
- Mestre pelo Departamento de Psiquiatria da USP;
- Médico Psiquiatra Assistente do Hospital Sírio-Libanês;
- Membro da International Association for Child and Adolescent Psychiatry and Allied Professions (IACAPAP);
- Coordenador dos Cursos de Pós-graduação em Psiquiatria e Psiquiatra da Infância e Adolescência da Pós Médica/FABIN;
- Psiquiatra no Projeto PROADI-SUS da Telemedicina do Hospital Israelita Albert Einstein;
- Professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade 9 de Julho 2019 a 2021;
- Supervisor da Residência de Psiquiatria da Secretaria Municipal de São Bernardo do Campo 2018 a 2020;
- Editor Adjunto da Revista Debates em Psiquiatria 2022 a 2023;
- Especialização em Saúde Mental da Infância e Adolescência pela Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência da UNIFESP;
- Especialização em Dependência Química na USP;
- Titulo de Especialista em Psiquiatria pelas Associações Brasileira de Psiquiatria e Médica Brasileira;
- Cursos em The Harvard Medical School: Psychiatry 2014 e Psychopharmacology: A Masters Class(2015);